PARA REFLETIR

“Se você não pode ter o mundo a teus pés, lute para ter um grão de areia, deste mundo, em tuas mãos."

"Só não é quem nunca tentou ser.
O que importa não é ser e sim tentar ser, pra quem sabe um dia ser.
E se não conseguir ser, ser feliz com o que conseguiu ser, mesmo sem ser o que sonha ser"







segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DESERTO DE CONCRETO


Para afastar do meu casebre a morte,
Deixei o norte,
Na esperança de encontrar minha sorte,
Atravessei o nordeste e desci para o sudeste.
Comigo sempre esteve a morte,
Que trouxe presa no meu matulã,
Pra minha família, que deixei no norte,
Ter mais sorte.
Como todo sertanejo, sou cabra forte.
Viajei no lombo de burro,
Na carroceria de caminhão.
Trouxe no peito a tristeza
E a dor da solidão,
Que espantava cantando esta canção:
“está presa a morte
No meu matulã.
Quero que minha mulher,
Que ficou no norte
Tenha mais sorte.
Um dia volto pro norte,
Não quero mais ver a morte.
Está presa a morte
No meu matulã
Quero que meus filhos,
Que ficaram no norte,
Tenham mais sorte.
Um dia volto pro norte,
“Não quero mais ver a morte”.
Cheguei à cidade grande,
Perdi-me no deserto de concreto.
Passei frio, passei fome.
Fui roubado,
Fiquei até sem nome.
Só não fiquei sem meu matulã,
Onde estava presa a morte
Que trouxe do norte.
Procurei e não encontrei a sorte.
Peguei meu matulã, estava vazio,
Tinha me abandonado a morte.
Voltei pro norte
Em busca da minha sorte.
Sou sertanejo, sou homem forte,
No sertão do norte
Dizem que sertanejo não chora,
Na minha frente veio a morte,
Levou a minha mulher, meus filhos
E também a minha sorte.
Aprendi que no norte
Sertanejo sofre e quase chora.
Pra não chorar de tristeza e emoção
Eu canto esta canção:
“não vou mais prender a morte
No meu matulã.
Sei que minha mulher aqui no norte
Com ela teve mais sorte.
Nunca mais vou deixar o norte
Pra procurar a sorte.
Não quero mais a morte
Presa na minha matula.
Sei que meus filhos aqui no norte
Com ela tiveram mais sorte.
Nunca mais vou deixar o norte
“Em busca de melhor sorte”.
Enterrei meu matulã aqui no norte
Pra nunca mais prender a morte.
A minha sorte
Foi ter nascido sertanejo forte.

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