Quantos
anos são passados?
Não sei.
Trago
viva na minha memória
Esta
repugnante história:
Não
conheci minha infância,
Não
brinquei com boneca,
Fui feita
e jogada como peteca.
Não sei
se foi há muito tempo
Ou se foi
ontem,
Mas trago
a dor na lembrança.
Mal
despontava no meu corpo de criança
Duas
pequenas elevações no meu peito,
Que
envergonhada escondia sem jeito.
Ainda
assustada chorava sem saber
Porque
meu corpo sangrava.
Não tinha
minha mãe
Pra minhas
lágrimas enxugar
E a verdade
me contar.
Aquele
que me pôs no mundo,
Que
aprendi a detestar,
Só sabia
me explorar.
Um dia,
em troca de um pacote
Com algum
dinheiro
Entregou-me
a um caminhoneiro,
Conhecido
por Zé Mineiro.
Aquele
monstro sem coração
Obrigou-me
a entrar no seu caminhão,
Caí na
boléia quase sem sentidos,
Sem saber
que meu corpo, pelo meu pai,
Fora
vendido.
Como
autêntico bicho do mato,
Sentada,
encolhida no canto,
Assustada
mal olhava pra estrada,
Não
entendia nada.
Onde ele
parava, me apertava
E me
amedrontava.
Sempre
chamando-me de filha.
Eu não
entendia nada,
Estava
muito revoltada.
Sem saber
o que fazer,
Com medo
do que pudesse acontecer,
Calada eu
ficava.
Por
dentro eu chorava,
Mas pra
ele não demonstrava.
Minha mãe
ensinou-me que pobre
Sofre sem
chorar pra dele ninguém zombar.
Creio que
já era madrugada
Quando
entramos em uma fuleira pousada,
Dessas
que ficam à beira da estrada.
Senti que
ele estava muito assustado.
Sem
demora levou-me para um quarto
Sujo e
mal iluminado.
Ordenou
que eu ficasse calada,
Fiquei
ainda mais assustada
E muito
envergonhada
Quando
ele tirou sua roupa
Mandando
que eu também ficasse pelada.
Ele
entrou comigo no pequeno banheiro,
Abriu o
chuveiro,
Esfregou
meu corpo inteiro.
Ainda
toda molhada, sem dizer nada,
Aquele
animal selvagem levou-me pra cama.
Atordoada
e calada, sem saber de nada
Por ele
fui estuprada.
Com minha
virgindade dilacerada,
Minhas
coxas arroxeadas,
De tanto
que foram forçadas
Fiquei
ali, acho que desmaiada.
Pela
manhã quando estava acordada
Vi que
fora por ele abandonada
Na beira
da longa estrada,
Estrada
de uma nova vida
Que pra
mim começava.
Fui
socorrida por muitos caminhoneiros,
Que
matavam a minha fome de comida
Pra que
eu matasse a fome deles
Na boléia
escondida, toda despida.
Todos
eles me faziam lembrar
Do Zé
Mineiro.
Hoje sou
esta mulher acabada,
Perdida
no tempo e no espaço.
Pela
sociedade estou marginalizada,
Carrego
no meu coração
Uma
doença que jamais será curada.
Trago
comigo o Henrique IV,
Meu fiel
e inseparável companheiro.
Não sei
se é filho do Zé mineiro
Ou de
qualquer outro caminhoneiro.
Poema extraído
do livro
Rosa
Vermelha
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